Alguns metros separavam os dois edifícios. Eu me encontrava no quinto andar. Ela estava do outro lado, me esperando. Num salto, voaria até lá. Mas ouvi sua voz, como se estivesse ao meu lado:
- Você pode voar, é mais fácil pra você, mas se falhar, a queda será maior. Ou você pode aprender a caminhar e chegar em segurança.
Seus lábios sequer se moviam. Mesmo assim sabia que era ela que me dizia.
Olhei pra baixo, senti um frio percorrer minha espinha só de imaginar ver o chão se aproximar. Entretanto, tinha um medo maior de caminhar. Tive um ímpeto de correr, então ouvi novamente sua voz:
- Tenha calma, aprenda.
Lentamente levei meu pé pra frente e o pus sobre o ar. Segurei minha respiração, com medo do impacto do chão. Pra minha surpresa, senti no ar um sustento igualável ao do solo e pude me apoiar e levar o outro pé à frente. Nele, senti o mesmo apoio. De tão contente, precipitei-me a caminhar mais depressa, mas conforme aumentava a velocidade, o ar perdia a coesão com meus pés e passei a me equlibrar tal qual um equilibrista caminha numa corda bamba.
Ela me olhou e pude entender sem precisar que me falasse. Voltei a colocar um pé de cada vez e levar o outro à frente somente depois de sentir firmeza no apoio.
Ela me olhava com satisfação. É a última coisa que me lembro. Acordei sem saber se cheguei lá.
rascunhado por
Ishikawa
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